terça-feira, 28 de julho de 2015

Resposta ao Bispo Walter McAlister II - O que é Teonomia?



Até mesmo cristãos piedosos podem cometer equívocos.
                                                       Augustus Nicodemus


Não é de hoje que cristãos piedosos cometem enganos. No ano de 388 d.C. Agostinho de Hipona (354-430), recém convertido ao cristianismo, escreveu a obra "Sobre a Livre Escolha da Vontade", que declara literalmente a existência da liberdade humana, a saber, o livre arbítrio.
Só que mais tarde, no ano 397, em seu livro Confissões, Agostinho volta atrás e demonstra através de sua história pessoal que o homem é totalmente dependente e escravo de sua vontade pecaminosa, e só uma força Divina pode influenciar e mudar este desejo pecaminoso.

Como já apresentado aqui, no dia 24 de julho de 2015, o Bispo Primaz da Igreja Cristã Nova Vida, Walter McAlister, publicou em seu canal do youtube um vídeo com o título “O que é Teonomia?”, mas quando questionado por diversos amigos e teólogos, voltou atrás, retirando o vídeo do ar e prometendo uma resposta mais coerente. Ontem,dia 27 de julho, foi publicado o vídeo revisado[1] sobre Teonomia.

O Bispo começa o vídeo agradecendo aos teólogos e jovens que estão sempre ao seu lado, observando sua teologia e em alguns momentos examinando o seu conteúdo teológico.
O primeiro ponto que o Bispo aponta é o seguinte. Ele afirma que a Teonomia é uma vertente dentro da visão pós-milenista.

É um tanto complicado fazer essa afirmação, pois a Teonomia pode caminhar sem e com o pós-milenismo. Na verdade todos os cristãos deveriam ser Teonomistas, inclusive que não são pós-milenistas.

Pois existem apenas dois pressupostos quando alguém cria regras, normas ou  leis civis.
O legislador no momento de criar as leis civis tem como opção adotar a autonomia ou a teonomia. Ou legislamos a partir de uma cosmovisão independente de Deus, ou legislamos a partir de uma cosmovisão Divina, somente um néscio prefere os homens a Deus.

A cosmovisão autônoma é tão problemática, que sempre estará manchada pelos efeitos noéticos da Queda. Já a cosmovisão Divina, sempre nos irá trazer luz, plenitude e perfeição.
Na metade do vídeo, o Bispo faz uma distinção entre leis permanentes, que seriam os dez mandamentos e lei levíticas, que não seriam permanentes. A divisão correta para as leis do Antigo Testamento não é essa, mas esta:

1 – Leis Civis – Representa a legislação dada por Deus.
2 – Leis Religiosas ou Cerimoniais – Representam as cerimônias que apontam para Cristo.
3 – Leis Morais – Representam a vontade de Deus para com o homem, no que diz respeito ao seu comportamento e deveres principais.

As Leis Teonômicas então no primeiro grupo de leis citadas acima, e não existe um texto bíblico claro dizendo que estas normas foram abolidas, pelo contrário, como demonstrado no artigo anterior[2], existem textos que confirmam a autenticidade delas no tempo presente.
Por fim, McAlister diz que os teonomistas são sabatistas. Isso não é uma realidade teonômica. No Brasil, os teonomistas seguem aquilo que os reformados ensinaram a observância do domingo[3].

Assim, é possível concluir que o Bispo McAlister continua equivocado em relação a teonomia, mas isso não o desqualifica como cristão.
Oremos para que ele possa mudar sua cosmovisão, assim como Agostinho fez.













[1] https://www.youtube.com/watch?v=1F1X1j2yiHE
[2] http://eueateologia.blogspot.com.br/2015/07/refutacao-do-video-do-bispo-walter.html
[3] https://resistireconstruir.wordpress.com/2012/07/12/o-quarto-mandamento-joao-calvino/

sábado, 25 de julho de 2015

Resposta ao vídeo do Bispo Walter McAlister "O que é Teonomia?"




No dia 24 de julho de 2015, o Bispo Primaz da Igreja Cristã Nova Vida[1], Walter McAlister, publicou em seu canal do youtube um vídeo com o título “O que é Teonomia?[2]”. No vídeo o Bispo tenta explicar de forma rápida e simples, qual o significado da visão de mundo Teonômica.
McAlister é conhecido dentro do contexto reformado por se intitular pentecostal e reformado. Ele vem tentando há tempos harmonizar as doutrinas reformadas com o pentecostalismo. No Brasil, o pentecostalismo não é reformado, mas o Bispo, ao longo de sua história, tem se esforçado para nortear e reler o pentecostalismo a partir das premissas reformadas.

Tentar conciliar a doutrina reformada com o pentecostalismo não é tarefa fácil, mas o bispo McAlister em diversos pontos tem acertado, mas estes acertos infelizmente não refletem no vídeo “O que é Teonomia?”.

O primeiro problema do vídeo ocorre quando McAlister usa os termos “A Teonomia está na moda”.
A afirmação “estar na moda”, soa como se a Teonomia fosse algo que está em evidência por acidente e todos estão aderindo automaticamente essa tendência sem senso crítico, como se fosse apenas um comportamento passageiro, isso é uma inverdade.

Os cristãos reformados não aderem às doutrinas por estarem em evidência, moda, ou por fazerem parte de uma tradição, e tenho certeza que o Bispo também não se tornou reformado por moda.
Os verdadeiros cristãos fazem como os Bereianos (Atos 17: 10-12), questionam, pesquisam, indagam todo ensinamento usando como filtro e regra de fé as Escrituras, a partir daí, declaram como verdade um ensinamento, este é o comportamento comum no meio reformado[3].

A afirmação mais problemática dos primeiros minutos do vídeo é essa: “os jovens calvinistas estão reinventando a roda”. Essa afirmação é néscia e descuidada.
O próprio McAlister cita um expoente da Teonomia, Abraão Kuyper. Essa citação em si, responde e demonstra que o Bispo é contraditório. É impossível os jovens calvinistas estarem tentando reinventar algo que na história do cristianismo já está solidificado.

Os Teonomistas contemporâneos não criaram ou estão tentando reinventar uma doutrina, pelo contrário, os defensores da Teonomia reafirmam aquilo que Lutero[4] (1483-1546), Calvino[5] (1509-1564), Kuyper[6] (1837-1920),  Rushdoony[7] (1916-2001), Bahnsen[8] (1948 - 1995), Gary DeMar [9], entre outros, ensinam, e os ensinamentos desde servos de Deus não são avessos as Escrituras, mas trazem uma enorme verdade bíblica.

O auge da problemática no vídeo do Bispo ocorre nessas três afirmações:
“A Teonomia se fundamenta na idéia de que a sociedade pode e deve ser regida pelo sistema judiciário Veterotestamentário, pela Lei Levítica”.
“Primeiro, a Lei Levítica se aplicou apenas ao povo de Israel na Terra de Canaã”
“Em Cristo, a lei levítica não se aplica mais, basta ler o livro de Atos”.

A Teonomia não é uma doutrina que se fundamenta no Antigo Testamento, pelo contrário, o sistema Teonômico ensina a lei de Deus como revelada no Antigo e Novo Testamento, como sendo o único padrão autoritativo de verdade e justiça e que a Escritura é inteiramente suficiente para nos instruir na justiça em cada esfera da vida. O Teonomista não extrai a Lei Levítica do seu contexto e aplica nos dias de hoje, mas aplica aquilo que a bíblia ensina de forma completa e absoluta, pois quem acredita ou usa apenas partes das Escrituras, não crê na Palavra de Deus, mas em si mesmo.

É complicado dizer que a Lei Levítica era vigente apenas para o povo de Israel, pois as Escrituras dizem o contrário (Levítico 24:22; Êxodo 12:49), a Lei de Deus é prescrita também para o estrangeiro. O próprio Apóstolo Paulo confirma isso (1 Timóteo 1:9,10). Obviamente, a Lei de Deus não leva à regeneração, mas é o único absoluto que temos para aplicar, que leva à ordem social.
A terceira afirmação do McAlister, soa como dispensacionalista[10], mesmo sabendo que o Bispo não defende este tipo de escatologia[11].

A leitura bíblica dispensacionalista mutila as Escrituras, afirmando que tudo do Antigo Testamento, de Gênesis 12 em diante, pertence inteiramente a Israel segundo a carne, e que nenhum de seus preceitos (como tais), são obrigatórios àqueles que são membros da Igreja, que é o Corpo de Cristo.
Em nenhum momento no livro de Atos dos Apóstolos deixa de lado as Leis Levíticas, inclusive, todo Novo Testamento tem como premissa e norte os textos do Pentateuco (Romanos 1:32).

O texto clássico que refuta a ideia de que a Lei foi abolida em Cristo, é uma fala direta do próprio Cristo: “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra (Mateus 5:17,18).

Quando Cristo usa a expressão "a Lei ou os Profetas" indica o conjunto completo das Escrituras judaicas, conjunto de livros que alguns judeus tentavam revogar.
Os saduceus não aceitavam os escritos dos Profetas, por motivo de sua interpretação errônea. Já os fariseus revogavam parte da Lei e os essênios revogaram partes de ambos, mas Jesus afirma neste discurso de forma categórica, eu não revoguei nem um nem outro.

E por fim, o Bispo McAlister diz que a Teonomia é um erro teológico e apela para a clássica falácia do espantalho[12], dizendo que a Teonomia é judaizante.
O termo legalismo nunca foi usado como sinônimo de alguém que aplica as Leis de Deus corretamente (isso que a Teonomia faz), seja na igreja, na cultura ou no Estado, pelo contrário, o legalismo ocorre quando alguém tenta forçar o outro a guardar a lei cerimonial ou tentar guardar a Lei de Deus como caminho direto a salvação (A Teonomia nunca afirmou que as Leis de Deus são caminho para o céu).
Existem cinco maneiras de usar a lei de Deus incorretamente, e o Novo Testamento descreve-as perfeitamente:

1. Guardando a Lei para ser justificado e salvo. (Veja Rm 3.21 4:25, Ef 2.9-10)
2. Impondo a lei cerimonial sobre os outros. (Gl 4.9-11, Cl 2.16-17, o Livro de Hebreus)
3. Adicionando regras e tradições humanas à Lei divina. (Mc 7.1 15, Mt 15.1-9)
4. Esquecendo-se de coisas essenciais em favor de questões menores. (Mt 23.23)
5. Estando preocupado somente com a obediência externa à Lei de Deus. (Mc 7.18-23, Mt 15.15-20, Mt 23.27-28)[13]

Estes são os cinco pontos principais onde o termo legalismo se encaixa, qualquer outra forma de aplicar o termo legalismo, é um espantalho ou uma mentira.
Convido o Bispo McAlister fazer um vídeo de retratação, e crer que as Escrituras são o único parâmetro absoluto para nortear a realidade.
Todos nós seguimos alguma lei, mas podemos optar por criar leis a partir do humanismo que muda conforme a cultura, ou utilizar as Escrituras, que é imutável.
Não sejamos como os fariseus e os escribas que negligenciam os mandamentos de Deus e amam as tradições humanas (Marcos 7:8- 9).
  









*Questionado em sua página pessoal sobre o assunto, o Bispo McAlister agradeceu o questionamento e o material sobre o tema, que um internauta postou. e disse que iria fazer as leituras indicadas e refazer o vídeo.
Hoje cedo, dia 26/07/15, o vídeo "O que é Teonomia" não está mais disponível para o público no youtube. Mesmo com a retirada do vídeo, o texto acima serve como luz para os cristãos que têm dúvidas sobre o tema.
Se todo cristão quando questionado respondesse como o Bispo McAlister o cenário evangélico seria muito diferente, glorifico a Deus pela vida do  Bispo McAlister e que o Senhor continue abençoando-o.








[1] http://www.icnv.com.br/conheca-a-icnv/historia/
[2] https://www.youtube.com/watch?v=zS4Llz1Dlak
[3] http://tempora-mores.blogspot.com.br/2010/10/sempre-reformando-ou-sempre-mudando.html
[4] http://www.barrabaslivre.com/2015/05/o-luteranismo-original-e-lei-civil-do.html
[5] http://www.barrabaslivre.com/2013/02/calvino-e-lei.html
[6] http://www.monergismo.com/textos/politica/politica-crista-kuyper_hexham.pdf
[7] http://www.monergismo.com/rousas-john-rushdoony/prefacio-teonomia-na-etica-crista/
[8] http://www.monergismo.com/textos/lei_evangelho/teonomia-mulher-adultera-pena_bahnsen.pdf
[9] http://www.barrabaslivre.com/2013/10/um-padrao-para-tudo-por-gary-demar.html
[10] O dispensacionalismo foi um movimento que surgiu em meados do século 19, na Inglaterra, como reação ao estado de frieza e liberalismo em que se encontrava a igreja oficial. Começou com reuniões de estudo bíblico em que uma nova maneira de interpretar as Escrituras foi desenvolvida. Partindo do texto de 2 Timóteo 2.15, e entendendo em sentido literal o verbo grego orthotomeo, ali empregado, como faz a Versão Inglesa King James, o movimento julgou encontrar neste texto a chave para a “correta” interpretação da Bíblia, ao traduzir aquele verbo como “dividir corretamente” e não “manejar corretamente” a palavra da verdade (com o sentido figurado de ensinar, expor ou interpretar corretamente), como temos em nossas versões em português.
[11] https://www.youtube.com/watch?v=6nY6jzCcV-0
[12] É um argumento em que a pessoa ignora a verdade sobre o tema e a substitui por uma versão distorcida, que representa de forma errada esta posição.
[13]http://www.barrabaslivre.com/2013/01/o-mito-do-legalismo-por-thomas.html

domingo, 12 de julho de 2015

FriendZone Cristã


Um dos fenômenos amorosos mais populares da pós-modernidade é chamado de FriendZone. Em português: Zona de Amizade, que se refere a uma situação onde um indivíduo deseja relacionar-se com outro no sentido romântico, enquanto o outro, não deseja o mesmo. Isso ocorre quando uma pessoa está apaixonada por outra, mas a outra deseja somente amizade.  

A FriendZone remete ao amor platônico, onde o amante não se aproxima da amada, não toca, não se envolve amorosamente, mas vive de alimentar suas fantasias e idealizações, onde o objeto do amor é sempre perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem defeitos, mas nunca é alcançado.

O termo FriendZone não foi popularizado no Brasil, mas teve sua primeira aparição no seriado americano Friends[i] em 1994. Na série, o personagem Ross Geller, que era apaixonado pela personagem Rachel Green, foi colocado por ela em um estado nomeado por um amigo do casal com zona de amizade. Mas foi somente em 2005, no filme Just Friends[ii], que o termo ganhou notoriedade internacional.  O filme retrata de forma direta como FriendZone afetou o personagem principal.

Em meados de 2010, este novo fenômeno sentimental chegou ao Brasil, sendo ocasião para piadas, pois ninguém deseja estar nessa zona de amigo, e também para vítimas.
Mas seria errado um cristão deixar alguém que lhe admire na FriendZone?

Para descobrir isso, é necessário classificar a FriendZone em dois tipos: FriendZone Light e FriendZone Clássica.

A primeira não é tão nociva, pois ocorre sempre que alguém se interessa pelo outro, e acaba sendo rejeitado, mas as consequências dessa Zona de Amizade Light não são causadas diretamente por quem rejeita o amor.

O cenário deste tipo de Zona de Amizade é este: Surge o interesse em namoro de uma das partes, que é rejeitada de forma educada e sincera, mas o amado deixa bem claro que o amor da amante é impossível de se realizar. O amado não ilude ou cria expectativas na amante, e se esforça para se afastar, quando necessário (a maioria das vezes é necessário), até que a paixão esfrie.

O segundo caso é mais perigoso e causa enormes consequências em quem é rejeitado.

A FriendZone Clássica começa quando o amante é rejeitado pela amada, mas a amada acaba aproveitando da paixão do amante. Além disso, a amada nunca deixa claro que aquele relacionamento não passa de mera amizade, e de forma direta ou indireta, ilude o amante. Outro comportamento típico da FriendZone Clássica, é quando o amante tenta se aproximar da amada, mas ela ignora-o, ou não responde de forma direta, causando assim uma ilusão no amante.

A FriendZone Light é impossível de ser combatida, pois sempre que alguém rejeitar um pedido de namoro, este fenômeno começa, mas não existe pecado nisso, quando os envolvidos tratam este problema de forma adulta, madura, sincera e cristã,.

Já no segundo fenômeno, chamado FriendZone Clássica, se torna problemático a partir do momento que o amante é iludido. Neste ponto a amada vai contra a cosmovisão cristã, pois ao criar uma ilusão, a amada mente ou omite a verdade (João 8:44). Não deixar claro que aquele relacionamento é apenas amizade, também é um tipo de omissão, e se encaixa como uma mentira. Além disso, ao se aproveitar do amante, a amada peca contra seu próximo, pois faz com o outro aquilo que não deseja que fizessem com ela (Mt 19:19;Mt 22:39Mc 12:31;Gl 5:14;Tg 2:8).

Os exemplos acima servem tanto para homens quanto para mulheres. E que possamos orar e viver um evangelho verdadeiro em todo momento, até mesmo quando temos que deixar claro para alguém que aquela relação é apenas uma amizade.




[i] Friends foi uma sitcom (seriado de comédia) americana criada por David Crane e Marta Kauffman e apresentada pela rede de televisão NBC entre 22 de setembro de 1994 e 6 de maio de 2004, com um total de 236 episódios.
[ii] É uma comédia romântica de 2005. A história se resume em dois personagens principais Chris Brander e Jamie Palamino que sempre foram amigos, desde a época do colegial. Chris é apaixonado por Jamie, mas, devido ao seu peso exagerado, nunca conseguiu namorá-la. Traumatizado, Chris cresceu, emagreceu e tornou-se um homem bem sucedido e mulherengo. Até que, anos depois, ele reencontra Jamie e vê sua antiga paixão renascer.

domingo, 5 de julho de 2015

Calvinismo Virtual


“Há mais de dez anos uma afirmação um tanto impopular para o evangelicalismo brasileiro foi dita em uma comunidade do Orkut[1]chamada Perguntas Cristãs Complicadas. A frase mencionava o seguinte “O livre arbítrio não existe”, ou seja, o homem não é totalmente livre. Foi assim que nasceu o calvinismo virtual”.


Calvinismo é uma orientação teológica ensinada por João Calvino, o grande Reformador Protestante do século XVI. E foi popularizada após sua morte.

O Calvinismo ensina que o pecador está literalmente morto em delitos e pecados, e, portanto, não pode fazer nada em favor da salvação de sua alma. Afirma também que Cristo morreu somente pelos eleitos. Prega que Cristo salva a quem Ele quer e que a regeneração vem através apenas do Espírito Santo que cria o verdadeiro arrependimento e o dom da fé no coração daqueles que por quem Cristo morreu. O Calvinismo também afirma que os propósitos de Deus nunca podem ser frustrados. Por estes motivos, a cosmovisão Calvinista afirma que o livre arbítrio do homem não existe.

Um dos primeiros focos virtuais relevantes da doutrina Calvinista ocorreu em uma comunidade do Orkut chamada “Perguntas Cristãs Complicadas”. Nesta comunidade, cristãos, agnósticos, ateus, espíritas entre outros religiosos ou não, debatiam de forma acirrada suas opiniões a respeito de Deus, religião, metafísica, filosofia e outros assuntos relacionados à fé. Foi dentro destes debates, que muitos internautas conheceram a doutrina Calvinista. E neste ponto virtual que se se inicia a primeira onda[2] virtual Calvinista.

Dentro desta primeira onda, se iniciou a produção de blogues[3], pequenos sites que eram atualizados diariamente ou semanalmente com diversos temas, que também ensinavam e traziam textos que abordavam o Calvinismo. Os blogues mais populares da primeira onda são: Púlpito Cristão[4] e Genizah[5]. Neste contexto, mas em outras mídias virtuais como sites e redes de compartilhamento de vídeo, surgem dois expoentes do Calvinismo virtual, o canal Voltemos ao Evangelho[6] que traduzia vídeos de pastores calvinistas Norte Americanos e o site Monergismo.com[7] que também trazia material dos EUA, mas adequando a nossa língua.

Uma das características dessa primeira onda é o foco na teologia calvinista e apologética, mas os blogues calvinistas desenvolveram uma nova forma de abordagem teológica. De frente com as mazelas evangélicas brasileiras, os blogues calvinistas dessa onda criaram uma abordagem humorista, que mistura apologética com humor.

A segunda onda virtual Calvinista ocorre com a popularização das redes sociais. Essa popularização acontece com a chegada do Facebook[8] ao Brasil, que ocorreu em 2007.
O Facebook criou uma nova forma de compartilhar conteúdo. Uma ferramenta chamada Página, onde o usuário pode publicar conteúdo, que pode ser comentado, curtido e outros usuários podem seguir as publicações. Este novo dispositivo atraiu muitos criadores de conteúdo, que antes publicavam apenas em seu perfil pessoal, mas agora surge a oportunidade e liberdade de divulgar as postagens com maior alcance.

A primeira página relevante da segunda onda é a Calvino da Depressão[9], que mistura teologia calvinista com humor, tendência criada na primeira onda. Outra página criada dentro deste novo formato, teologia mais humor, é a Reforma que Passa[10], que no seu auge teve mais de 50 mil seguidores.

A característica principal da segunda onda é mais humor e um pouco de teologia calvinista, mas dentro desta expansão ainda surgiram blogues/sites que tratam mais de teologia calvinista e bem pouco, ou quase nada de humor, como o Barrabás Livre[11] e Internautas Cristãos[12].
O mundo virtual calvinista acabou encantando os novos calvinistas, e o sonho de todo neocalvinista dentro desta bolha virtual acabou se resumindo em ter uma página, blogue ou site que professe a doutrina calvinista, causando o fenômeno que eu chamo de terceira onda virtual Calvinista.

A terceira onda virtual Calvinista é marcada por um crescimento e expansão descontrolada de páginas, blogues e sites com conteúdo calvinista. Estes canais dão mais ênfase ao humor e tem como característica catequizar personagens seculares ao calvinismo. Um exemplo disso são as páginas Pica Pau Reformado[13], Máscara Reformado [14] e até mesmo MC Brinquedo Reformado[15].
O prisma dessa terceira onda é o humor, ou seja, o humor na maioria das vezes é colocado acima da teologia, causando em diversos momentos enorme desconforto e muita polêmica.

Mesmo assim, algumas páginas da terceira onda conseguiram equilibrar o humor com a teologia. Um exemplo deste tipo de página é a Presbiteriano Pobre[16], Atitude Cristã[17] e Reforma Quadrangular[18].

A expansão contemporânea do Calvinismo na internet é notória, mas deve ser sempre norteada pela ideologia da Reforma Protestante, os Cinco Solas[19], e edificada através da famosa frase da época do Sínodo de Dort (1618-1619),  “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est” que significa “A Igreja é reformada e está sempre se reformando”, todavia, esta reforma contínua deve nos trazer para mais perto das Escrituras. Os calvinistas virtuais devem sempre buscar um melhor entendimento da verdade e fazer uma aplicação relevante dela para os nossos dias.





[1] O Orkut foi uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de janeiro de 2004 e desativada em 30 de setembro de 2014.
[2] FRESTON em seu livro Pentecostalismo: seminário UNIPOP 1996 popularizou o termo onda, utilizando para representar as três fases do pentecostalismo no Brasil. Neste pequeno texto, vou utilizar o termo onda para representar as três fases e um fenômeno que nomeio de Calvinismo Virtual.
[3] Contração do termo inglês web log, "diário da rede" é um site cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos, ou posts.
[4] www.pulpitocristao.com
[5] www.genizahvirtual.com
[6] https://www.youtube.com/user/VoltemosAoEvangelho
[7] http://www.monergismo.com/ antigo http://www.monergismo.net.br/
[8] Facebook é um site e serviço de rede social que foi lançado em 4 de fevereiro de 2004.
[9] https://www.facebook.com/calvinodadepressao?fref=ts
[10] Hoje com o nome Reforma que Passa 3.0 Insurgente. https://www.facebook.com/pages/Reforma-que-Passa-30-Insurgente/801632803267232?fref=ts
[11] www.barrabaslivre.com
[12] O canal está no ar desde setembro de 2005, inicialmente com o nome de Cristãos Online. http://www.internautascristaos.com/
[13] https://www.facebook.com/PPReformado?fref=ts
[14] https://www.facebook.com/reformados2.0?ref=ts&fref=ts
[15] https://www.facebook.com/pages/MC-Brinquedo-Reformado/1578953295687833?fref=ts
[16] https://www.facebook.com/pobrepresbiteriano?fref=ts
[17] https://www.facebook.com/pages/Atitude-crist%C3%A3/228047124054009?fref=ts
[18] https://www.facebook.com/ReformaQuadrangular?fref=ts
[19] http://www.monergismo.com/textos/cinco_solas/cinco_solas_reforma_erosao.htm

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O amor Neotestamentário



Diferente do idioma português a linguagem grega extra bíblica tem um bom número de palavras para descrever o amor. As mais importantes delas são: phileó, stergó, eraó e agapaó. Os escritores neotestamentários utilizaram algumas destas palavras para expressar as verdades dadas por Deus sobre amor.

Phileó aparece 25 vezes no Novo Testamento e denota principalmente a atração de pessoas entre si, quando estão estreitamente ligadas dentro e fora da família, expressa preocupação, cuidado e hospitalidade, bem como amor às coisas no sentido de "gostar de".

A palavra menos frequente nos escritos bíblicos é "stergó", significa amar, sentir afeição, especialmente mútuo amor entre pais e filhos. Pode-se empregar também do amor de um povo pelo seu soberano, o amor de um deus tutelar pelo povo, e até dos cachorros por seu dono. É muito comum para o amor entre os cônjuges, e não ocorre em parte alguma no Novo Testamento, a não ser nos compostos "astorgos em Rm. 1:31; Tm.3:3” e "philostorgos" em Rm. 12:10”. Acha-se no entanto, em alguns escritos primitivos I Clemente 1:3; Policarpo 4:2.

O verbo "eraó" e o substantivo "erós" do outro lado denotam o amor entre o homem e a mulher que abrange o anseio, o anelo e o desejo. O deleite dos gregos na beleza do corpo e nos desejos sensuais achava expressão aqui, na abordagem dionisíaca à vida, e sua sensação dela. O êxtase sensual deixa muito para trás a moderação e proporção, e os  gregos conheciam o poder irresistível de Eros - o deus do amor tinha o mesmo nome - que, no caminho do êxtase, esquecia-se de todo o raciocínio, vontade e discrição. Havia, outrossim, um entendimento mais místico de "erós", mediante o qual os gregos procuravam atingir, e ir além de, todas as limitações humanas, a fim de chegarem à perfeição. Além dos cultos de fertilidade, com suas influências orientais, e sua glorificação do Eros gerador na natureza, havia também as religiões de mistério, cujos ritos visavam unir o participante com a divindade. Aqui, a união espiritual e física com o deus chegava mais e mais para o primeiro plano, por mais que se empregassem figuras e símbolos eróticos. Platão procurou elevar o amor espiritual acima do físico "erós", para ele, era o esforço em prol da retidão, do autodomínio e da sabedoria; é a concretização do bem, o modo de se atingir a imortalidade. Em Aristóteles o conceito se desenvolveu ainda mais nesta direção, e em Plotino domina a aspiração mística para com a união espiritual com o transcendental. No Novo Testamento o verbo "eraó" e o substantivo "erós" não aparecem.

O verbo "agapaó" aparece frequentemente na literatura grega de Homero em diante, mas o substantivo "agapé" é uma construção que só aparece no grego posterior. Foi achada uma só referência fora da bíblia: ali, a deusa Isis recebe o título de "agapé".

"Agapaó" é frequentemente uma palavra descolorida em grego, e aparece com frequência como alternativa para, ou sinônimo com, "eraó" e "phileó", com o significado de gostar de, tratar com respeito, estar contente com e dar as boas vindas.

Quando, em raras ocasiões, se refere a alguém que foi favorecido por um deus, fica claro que, diferentemente de "eraó", não se refere ao anseio humano por posses ou valores, mas sim, uma iniciativa generosa de uma pessoa por amor à outra. Tal fato se expressa, sobretudo no modo que se emprega "agapétos", normalmente a respeito de uma criança, mas especialmente quando se trata de um filho único ao qual se dá todo o amor dos pais.

No Novo Testamento, o amor é uma das ideias centrais que expressam o conteúdo total da fé cristã. Uma das atividades de Deus é o amor. Em diversos momentos, é possível observar Deus no texto bíblico demonstrando amor por seus eleitos. O amor de Deus, acima de tudo, é o seu amor por si mesmo, sua glória, e sua santidade. O texto de 1 João 4:16 indica isso quando nos diz que Deus é amor. Em si mesmo como Pai, Filho e Espírito Santo, Deus é o epítome de todo amor. Para ser um Deus de amor, ele não precisa de nós, nem é a sua glória como o Deus de amor incompleta sem nós. De eternidade a eternidade ele é amor, em e de si mesmo, na Trindade.

Já o termo grego "stergó" ocorre no Novo Testamento somente em Rm. 12:10, no composto "philostorgos", que significa, amando cordialmente, numa expressão na qual Paulo ressalta a necessidade por amor na igreja, por meio de amontoar palavras para amor: " té philadelphia eis allélous philostorgoi - dedicados uns aos outros em amor fraternal”. Em Rm 1:31; 2Tm 3:3 no composto "artorgos", sem coração, desumano, sem afeição natural. Como ilustração de semelhante falta de afeição natural da família. "Phileó", do outro lado, aparece comumente, embora também apareça em palavras compostas. Em todos os casos, no entanto, permanece uma palavra mais limitada e descolorida. Um exemplo típico seria "philadelphia", amor por um amigo ou irmão. A ênfase principal de "phileó”; é o amor por pessoas que tem vínculos estreitos, ou de sangue ou de religião.

Quando a Bíblia trata sobre relacionamento entre casais, não fala do amor "erós", que busca apenas a satisfação pessoal, deleite na beleza do corpo e nos desejos sensuais, pelo contrário, a Escritura aponta para o amor como mandamento da mesma maneira que Jesus nos ensina (Mateus 22,36-40).
Mesmo não direcionando o texto bíblico para o amor entre homem e mulher, o apóstolo Paulo na segunda carta à igreja de Coríntios, descreve as qualidades do amor (ágape).

O amor é paciente, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria; não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre; tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

A paciência do amor denota a ideia de lentidão para irar-se, e não se ofende ante o primeiro insulto. É o contrário da impaciência, que está sempre preparada para tirar vingança. A benignidade traz a ideia de realizar feitos específicos de bondade em favor do amado (a). O amor não tem inveja. A palavra traduzida por inveja no original é "dzeloo", que denota ideia de ser ciumento, a melhor tradução seria: "o amor não é ciumento", ou seja, o verdadeiro amor não traz sentimento de posse, não é composto de um misto de desconforto e raiva e atormentam aquele que cobiça algo somente pra si.
O amor não se vangloria: Pode-se aludir à palavra vangloria que denota exibição intelectual ao exibicionismo retórico. O amor não exalta a si mesmo para degradar aos outros, não se ostenta, nem daquilo que possui como aquilo que lhe é natural. O amor não se ensoberbece; O amor impede a pessoa de inflar-se com o senso de sua própria importância, o amor não se mostra altivo. Não se porta com indecência; O amor não se comporta sem boas maneiras. O amor jamais age fora de lugar ou contrariamente ao seu caráter, mas observa o verdadeiro decoro e as boas maneiras. Não busca os seus interesses; O amor não busca seu próprio aprazimento, seu prazer, sua própria reputação, sua própria bem-aventurança, porquanto, nada busca que queira apenas para si mesmo. Não se irrita; O amor não perde a compostura em vista das ameaças aos seus direitos. Não se amargura ante as ofensas, reais ou imaginárias. Não suspeita mal;  não encontra o mal onde o mal não existe, ou seja, não imagina o mal em face de pequenas indicações, que se alicerçam em pequenos indícios observados, em informações insuficientes que tenham recebido. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; O amor jamais se rejubila quando outros cometem a maldade, também não se regozija com a queda alheia, não se regozija com a fraqueza de outros, a fim de exaltar-se em sua própria suposta retidão, pelo contrário, o amor encontra sua plena satisfação na verdade, o amor se alegra ante o triunfo do bem, e onde quer que esse triunfo se possa encontrar.

Neste ponto, podemos observar os quatro “tudos” do amor.
Tudo sofre; O amor lança um véu sobre os pecados e as fraquezas  dos outros, suportando-os, pois é blindado.
Tudo crê; Essas palavras não significam que o amante deva ser crédulo, a ponto de ser enganado por qualquer charlatão. No entanto, o amor acredita no lado melhor das pessoas e não procura expandir os seus defeitos.
Tudo espera; O amor vê o lado brilhante das coisas, não se desespera, tem esperança inundado de confiança.
Tudo suporta; o termo suporta faz alusão a formas de tribulações, o amor suporta todo tipo de sofrimento, o amor é como uma madeira madura, nunca cede diante das tribulações.

Utilizando a mesma palavra “ágape” que vem carregada com todas as qualidades descritas acima, o Apóstolo instrui a relação de homem e mulher dentro do casamento (Ef. 5:25-33 - Cl 3:19), este exemplo deve ser levado para o namoro cristão (pois um cristão deve apenas namorar com a pessoa que deseja casar-se) e noivado. Todo relacionamento entre homem e mulher deve ser inundado desde amor descrito por Paulo.


Que o Senhor nos ajude a ter este amor “ágape” dentro dos nossos relacionamentos.