domingo, 28 de junho de 2015

Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é; (Levítico 18:22)


Nesta sexta-feira (26/06) a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Antes dessa decisão, 13 estados Americanos proibiam esta prática, mas agora estes Estados serão obrigados acatar a medida. A mais alta esfera jurídica dos EUA aprovou esta decisão por cinco votos contra quatro.

No Brasil o casamento gay já é permitido. Isto se deu através de uma resolução (n. 175) do Conselho Nacional de Justiça tomada em 2013. Tal medida obrigou os cartórios deixarem de recusar a celebração de casamentos civis de casais do mesmo sexo ou deixar de converter em casamento a união estável homoafetiva.

Em 2013 no Brasil, não houve tanto alarde ou comemoração por simpatizantes da causa gay, mas após a decisão Americana, grande parte dos ativistas gays e pessoas que enamoram a causa, vieram a público manifestar apoio.

No mundo virtual o estopim das comemorações se deu quando o fundador da rede social Facebook, coloriu sua foto oficial com as cores do movimento GLBT, desde então, milhares de usuários começaram imitá-lo[i].

Em contra partida, alguns cristãos exortaram tais simpatizantes utilizando textos bíblicos. Os textos bíblicos mais utilizados para persuadir os militantes GLBT foram: Levítico 18.22. e Romanos 1:25;32.

O curioso é que muitos cristãos não aceitam o texto de Levítico como inspirado para refutar as práticas homossexuais, outros defendem o pecado homossexual como legitimo na esfera civil, numa espécie de cristãos laicos[ii].

Os dois grupos criam uma frente anti Pentateuco, a partir de duas principais argumentações.
O primeiro grupo de cristãos afirma que, o livro de Levítico é uma prescrição apenas para Israel, e que após o sacrifício de Cristo e por estarmos debaixo da dispensação da graça, grande parte das Leis dadas por Deus perde a jurisdição e que apenas as Leis confirmadas pelo Novo Testamento são válidas.

Já o segundo grupo acredita que Deus não dá diretrizes na esfera civil, afirmando que a bíblia é regra de fé apenas para os salvos, criando uma dicotomia entre sagrado e profano, secular e espiritual, assim, negam o valor das Escrituras como premissa para exortar os infiéis.

O primeiro grupo é diretamente influenciado pelo dispensacionalismo[iii]. A leitura bíblica dispensacionalista mutila as Escrituras, afirmando que tudo do Antigo Testamento, de Gênesis 12 em diante, pertence inteiramente a Israel segundo a carne, e que nenhum de seus preceitos (como tais) são obrigatórios àqueles que são membros da Igreja, a qual é o Corpo de Cristo. Também defendem que apenas os preceitos do Antigo Testamento validados ou repetidos no Novo Testamento são regras.

Este falso ensino se popularizou no Brasil com a chegada do pentecostalismo[iv]. Os missionários pentecostais eram em sua maioria dispensacionalistas.
É um enorme erro afirmar que a bíblia deve ser aplicada apenas a partir do Novo Testamento ou que as Leis do Antigo Testamento só se validam a partir de um filtro Neotestamentário.

Embora haja grande variedade ao longo das prescrições bíblicas, há uma inequívoca unidade subjacente ao todo. Ainda que Deus tenha empregado muitos porta-vozes que escreveram os textos bíblicos, as Sagradas Escrituras têm senão um Autor; e, embora Ele antigamente tenha falado “muitas vezes, e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas” e “nestes últimos dias pelo Filho” (Hb 1.1,2), todavia, quem falou por eles era e é Aquele “em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1.17), que, por todas as eras, declara: “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6).

PIERSON (1969) ilustra muito bem a relação e uniformidade entre Novo e Antigo Testamento
As relações mútuas dos dois Testamentos. Essas duas divisões principais parecem-se com a estrutura dual do corpo humano, onde os dois olhos e ouvidos, mãos e pés, correspondem-se e complementam um ao outro. Não há apenas uma adequação geral, mas especial e mútua. Logo, elas precisam ser estudadas juntamente, lado a lado, para serem comparadas até nos menores detalhes, pois em nada são independentes umas das outras, e quanto mais precisa a inspeção, mais minuciosa parece a acomodação, e mais intrínseca a associação. Os dois Testamentos são como os dois querubins do propiciatório, voltados para direções opostas, todavia, encarando-se um ao outro e eclipsando com glória um lugar de misericórdia; ou, outra vez, eles são como o corpo humano ligado juntamente por juntas e tendões e ligamentos, com um cérebro e um coração, um par de rins, um sistema de respiração, circulação, digestão, nervos sensores e motores, onde a divisão é destruição.

Do começo ao fim, há perfeita concordância entre todas as partes da Palavra: ela apresenta um sistema de doutrina. Nunca lemos “as doutrinas de Deus”, mas sempre “a doutrina”: vide Dt 32.2; Pv 4.2; Mt 7.28; Jo 7.17; Rm 16.17, e contraste com Mc 7.7; Cl 2.22; 1 Tm 4.1; Hb 13.9, pois que é um todo único e orgânico. Tal Palavra nos apresenta uniformemente um só caminho de salvação, uma só regra de fé. De Gênesis a Apocalipse há uma Lei Moral imutável, um Evangelho glorioso para os pecadores que perecem.

O segundo grupo sofre uma enorme influencia de Tomás de Aquino. Na verdade foram os gregos (Platão) que defendiam uma separação entre o sagrado e o profano. Os gregos tinham uma visão que as coisas materiais eram ruins e profanas, enquanto a salvação dependia de libertar o espírito do material.

Tomás de Aquino herdou isso da filosofia platônica, assimilando o pensamento grego ao cristianismo.  Tomás de Aquino produziu uma estrutura dualística, dividindo o conceito de natureza e graça. Ele dizia que o homem está em um estado de natureza pura que precisa de uma adição de graça, quer dizer, além de nossas faculdades naturais, Deus dotara os seres humanos de um dom ou faculdade sobrenatural que os capacita a ter um relacionamento com Deus. Esse pensamento trouxe a visão que as coisas humanas são independentes das divinas, apesar de andarem juntas. O dualismo de Aquino produziu o pensamento de viver como homem natural e homem espiritual, coexistindo em um só ser. Partindo dessa premissa de Aquino, o pensamento vigente na cristandade é que se ia à missa para um ato sagrado, enquanto trabalhar era o lado profano.

O evangelicalismo brasileiro e inundado desta dicotomia de Aquino, fazendo com que o cristão não acredite que a cosmovisão bíblica seja um norte para cultura, arte, lazer, trabalho, educação, política entre outras coisas. Como resultado disso, a grande maioria dos cristãos brasileiros escolhe o humanismo[v] para nortea-los.

A palavra de Deus não deve ser regra apenas para os salvos e muito menos um norte apenas para a igreja. A bíblia é um padrão para tudo e para todos.
As prescrições bíblicas devem influenciar a cultura, arte, lazer, trabalho, educação, política e outras esferas da vida (1 Tm 1.9-10). Sabemos que este norte bíblico não leva à regeneração, mas é necessário para manter a ordem social.

O texto bíblico do Evangelho de Marcos 7:8-9 é muito claro em advertir àqueles que rejeitam a Escritura como autoridade final: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens... Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição”, este é o principal motivo que deve levar todo ser vivente a nortear-se apenas a partir da revelação bíblica, a saber, as Escrituras.

Assim, o texto de Levítico é uma regra tanto para os cristãos quanto para os ímpios e deve ser utilizado para exortar todos.






[iii] O dispensacionalismo foi um movimento que surgiu em meados do século 19, na Inglaterra, como reação ao estado de frieza e liberalismo em que se encontrava a igreja oficial. Começou com reuniões de estudo bíblico em que uma nova maneira de interpretar as Escrituras foi desenvolvida. Partindo do texto de 2 Timóteo 2.15, e entendendo em sentido literal o verbo grego orthotomeo, ali empregado, como faz a Versão Inglesa King James, o movimento julgou encontrar neste texto a chave para a “correta” interpretação da Bíblia, ao traduzir aquele verbo como “dividir corretamente” e não “manejar corretamente” a palavra da verdade (com o sentido figurado de ensinar, expor ou interpretar corretamente), como temos em nossas versões em português.

[iv] O pentecostalismo surgiu nos últimos anos do século 19 ou nos primeiros do século 20. Todavia, por algum tempo ele se manteve relativamente modesto e circunscrito às fronteiras dos Estados Unidos. Seu crescimento vertiginoso e sua difusão internacional ocorreram a partir do famoso Avivamento da Rua Azusa, em Los Angeles, que teve início em abril de 1906. O movimento entrou cedo na América Latina, primeiro no Chile (1909) e logo em seguida no Brasil (1910).


[v] Humanismo é a filosofia moral que coloca os humanos como principais, numa escala de importância. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas que atribuem a maior importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, particularmente a racionalidade.


Bibliografia
  
BARRABÁS LIVRE disponível em <http://www.barrabaslivre.com/2013/02/calvino-e-lei.html> Acesso em: 28/06/2015.

BARRABÁS LIVRE disponível em <http://www.barrabaslivre.com/2013/10/um-padrao-para-tudo-por-gary-demar.html> Acesso em: 28/06/2015

PIERSON, A. T. - Knowing the Scriptures , EUA – Editora: Scripture Truth Book 1969.

PINK, Arthur W. - Uma refutação bíblica ao dispensacionalismo, tradução: Vanderson Moura da Silva, 1952.
  
TEOLOGIA PENTECOSTAL disponível em <http://www.teologiapentecostal.com/2007/09/dicotomia-sagradoprofano.html>Acesso em: 28/06/2015.

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