sexta-feira, 26 de junho de 2015

Avivamento pentecostal reformado


Na manhã de hoje (25/06), ouvi através de um grupo de teologia reformada que um grande pastor brasileiro reformado fez a seguinte afirmação: “Irá ocorrer um grande avivamento reformado, e este avivamento irá vir através dos jovens pentecostais”.
Achei a afirmação um tanto otimista, mesmo sabendo que este pastor é amilenista[i].

Existem evidências de que irá surgir um avivamento pentecostal reformado?

O pentecostalismo é um movimento que surgiu no EUA, na cidade de Topeka Kansas, no ano de 1900 a 1901. Seu fundador foi Charles Fox Parham (1873-1929).

Parham, influenciado pelo movimento holiness[ii], que pregava uma segunda experiência depois da conversão, à chamada segunda bênção, mais conhecida no Brasil como batismo no Espírito Santo.
A explosão do movimento pentecostal ocorreu através de William Seymour, que foi aluno de Parham. Após ser expulso de uma igreja, por pregar a ênfase do batismo no Espírito Santo, Seymour alugou um antigo templo que pertencera à Igreja Metodista Episcopal Africana, na Azusa Street, número 312, iniciando ali um movimento sob o nome “The Apostolic Faith”. Esse endereço se tornou um polo do movimento pentecostal e muitos protestantes iam até lá para sentir e ver o que ali estava acontecendo.

Um dos visitantes deste avivamento foi William Durham, pastor da igreja “North Avenue Full Gospel Mission” (Missão do Evangelho Pleno na Avenida Norte). Ali Durham passou várias semanas e recebeu o batismo no Espírito Santo.

Durham foi o pastor que mais influenciou o primeiro missionário pentecostal que chegou ao Brasil,  o missionário Luigi Francescon.
Francescon era antigo membro da Igreja Presbiteriana Italiana de Chicago que, após ter contato com Durham teve uma experiência com revelações divinas e seguiu para Argentina e para o Brasil, iniciando nos Estados de São Paulo e Paraná a Congregação Cristã no Brasil.

A segunda denominação pentecostal fundada no Brasil foi a Assembleia de Deus. Seus fundadores também vieram ao Brasil por conta de revelações divinas.

Daniel Berg e Gunnar Vingren, dois suecos que moravam nos Estados Unidos, foram atraídos pelo avivamento pentecostal Norte Americano, e, por consequência, participaram da experiência de serem batizados com o Espírito Santo.

No dia 05 de novembro de 1910, a bordo do navio Clement,  deixaram a frígida Nova Iorque com destino à cálida Belém do Pará, com a intenção de praticar missões no Brasil.

A terceira denominação pentecostal fundada no Brasil foi a Igreja do Evangelho Quadrangular. Essa chegou ao Brasil pelas mãos de Harold Williams, que fundou a denominação em São João da Boa Vista. A Igreja do Evangelho Quadrangular foi fundada nos EUA, por uma mulher, que teve uma experiência pessoal com Deus.

Uma marca da origem do movimento pentecostal que ecoa até hoje são as experiências pessoais. O cristianismo pentecostal rompeu e  abandonou a regra de racionalização das instituições cristãs, estando referenciado mais pela experiência emocional, a partir da qual a vivência e organização dos grupos dão-se pela fruição de sentimento contínuo da experiência mística imediata dos sujeitos.

Fica claro no relato histórico acima que os fundadores pentecostais foram marcados e norteados por  revelações divinas e experiências pessoais com Deus. Não estou afirmando que Deus não possa falar diretamente com o homem, mas este traço místico acabou solidificando a forma com que os pentecostais brasileiros fizessem sua leitura de mundo, e por consequência influenciou diretamente a leitura das Escrituras.

Este tipo de filtro faz com que os pentecostais coloquem a experiência pessoal em primeiro lugar, desmerecendo assim a revelação bíblica.

Os pentecostais cometem um erro parecido com o da ICAR[iii].
A regra de fé pentecostal é a experiência, que vem em primeiro lugar. Em segundo lugar a tradição. Logo após a palavra do presidente geral da igreja, em quarto lugar a autoridade do pastor e por fim as Escrituras.

Este tipo de leitura é contrário da Reforma Protestante, que prega a volta às formas e teologia original da igreja apostólica. Os reformadores pregavam o “Sola Scriptura[iv]”, esta premissa é a pedra angular da Reforma. Este termo latino afirma que, a bíblia é a única regra de fé e prática para todos os homens, em todos os tempos e em todos os lugares.

Ao longo da história do Cristianismo pós Reforma, as igrejas reformadas se esforçaram para se nortear por esta pedra angular. As igrejas reformadas que abandonam esta premissa se perderam no liberalismo[v] teológico.

Sem o “Sola Scriptura” os pentecostais se perderam entre misticismos, opiniões humanas, legalismos e exageros carismáticos.
Não existem evidências de que está ocorrendo um avivamento reformado vindo dos pentecostais, pelo contrário, a cada dia elementos neopentecostais estão entrando no pentecostalismo. 

O avivamento pentecostal reformado só irá ocorrer quando os cristãos pentecostais e suas lideranças abraçarem a bússola da Reforma Protestante, caso contrário, a tendência é que a igreja pentecostal se neopentecostalize, se tornando uma igreja apóstata.






[i] Amilenismo é aquela visão das últimas coisas que sustenta que a Bíblia não prediz um ‘Milênio’ ou período de paz e justiça mundial sobe a Terra antes do fim do mundo.

[ii] Movimento de santidade, a partir da década de 1830, a crescente insistência na perfeição cristã resultou em uma cruzada ou avivamento da “santidade” (em inglês “holiness”), que teve como personagem central Phoebe Palmer, esposa de um médico de Nova York. Por muitos anos ela liderou reuniões semanais para a promoção da santidade, publicou um influente periódico e viajou extensamente como evangelista itinerante na América do Norte e na Europa.

[iii] Na Igreja Católica Apostólica Romana a tradição é colocada acima das Escrituras.

[iv] Somente a Escritura

[v] http://www.ipb.org.br/informativo/agora-gays-podem-casar-na-igreja-presbiteriana-dos-estados-unidos-pcusa-3972



Bibliografia:

ALENCAR, Gedeon. Assembléia de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946). São Paulo: Arte editorial, 2010.

FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo Brasileiro in Nem Anjos, Nem Demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo, Petrópolis, Antoniazzi, Alberto et alli. Vozes, 1994.



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